Vivo por ela
Escrevo. Bem além do que ressinto | Ou sinto ou do que vejo. Muito mais. | Escrevo por questão da alma, do instinto, | Do sonho mais que as sombras factuais!
Envolver
Desperta-me e se achega teso e arfante | No leito de paixão que nos pertence… | Atrita-se ao que a ti faz-se abundante, | Arqueio, pois tão fácil me convence…
Desvelo
Perfume de tez, tórrido desejo; | Teus olhos na penumbra mui silente… | Assim, tão devagar, bem forte almejo… | Murmuras rijo, amor, em mi’a torrente…
Mágoa
Jamais imaginei te carregar | Na forma e substância d’esta mágoa, | No peito que se assola por lembrar, | Rendido ao desalento e morto em frágua…
Vetiver
Fragrância em tua tez tanto me instiga, | Provoca-me o sorriso, m’entorpece… | Fleumático e febril, viril me intriga… | Estímulo notívago, me aquece…
A Bruxa e o Cadáver
— Levanta-te morbígero cadáver! | Teus olhos vítreos pálidos reluzem! | Odor de morte antiga que paláver | Sem verbo zumbi horrores que conduzem;…
Onirialgia
Estive no esplendor d’este lugar | N’algures dos meus sonhos mais serenos | Dormi nos girassóis, ouvi cantar | Os pássaros nas nuvens, contra o vento…
Delicaen
Pungentes os mundanos são à seda | Das pétalas do ser, que quebradiço, | Eu sou por ver-me sempre na vereda | D’um mundo belicoso e tão mortiço…
Vehrvorus
Que fosses ente e crer-te eu sempre iria | No alvor rogar-te em puro amor vestal | Que fosses a Verdade, eu saberia…
Limbo
Circunda-me gris noite, estou tão só… | Por vezes dói, minh’alma s’esvazia | E lembro hei de tornar-me reles pó | Da vida cuja bruma é primazia…
Demasiado Humano
Assim fragmentar-me e à tez sentir, | Aroma, calidez, silêncio a sós… | Desvelo uma clareira do existir | Às cordas d’este tempo em rijos nós…
Nosso Momento
Tocar-me o dorso aquece-me e, talvez, | Nas flébeis amarguras de meu ser | Resida algum remanso em lucidez | ‘vivado pelo afago ao noutecer…
Ttrttrom
Enquanto no convés observava | Revolto o mar estranho parecia, | A negra tempestade se agravava, | Um som horripilante s’espargia…
Arvohreomor
O Sol, um ponto pálido no céu | Azúleo-gris, opaco e tão brumoso; | Pinheiros, névoa negra como um véu… | N’orvalho d’um dilúculo moroso;…
Sonurista da Morte
Nas grotas d’uma lôbrega passagem, | A balça gris e sôfrega, que à vista, | Ornava em medo fúnebre a viagem | Aos versos d’um plangente sonurista;…
Notúrnea
Dois breus s’escondem brandos n’este olhar | Transitam, sobretudo, em rubras rosas, | Às vezes, lhanos, tenros, a expressar | Paixões intensas, dores perigosas…
Íntima Tristura
Pressinto as outonais aragens frias | No âmago e às janelas, devagar… | O belo movimento em pradarias | Tão símeis aos meus sonhos — meu lugar;…
Vinho & Ausência
Do vinho que deixaste na tua ausência | Recordo-me do gole, seco e rubro… | Da amarga nicotina em decadência | Do beijo que me deste em triste outubro…