Vinho & Ausência
Do vinho que deixaste na tua ausência
Recordo-me do gole, seco e rubro…
Da amarga nicotina em decadência
Do beijo que me deste em triste outubro…
Perverso o teu olhar que a mim dardeja
Deixaste vinho e ausência e, sobretudo,
A morte que mui sei, tão ímpia almeja
Cingir-se em mim na cama e no veludo…
Por falta do teu toque amargurado,
Na ausência que deixaste no meu vinho,
Um gole, que me baste, aromantado
Do sândalo — almíscar — sal marinho
Demais impregnado na saudade,
Um roubo da mi’a pouca sanidade,
Torturo-me a saber que estás sozinho…
Do vinho que deixaste na tua ausência | Recordo-me do gole, seco e rubro… | Da amarga nicotina em decadência | Do beijo que me deste em triste outubro…
Que ardor… Cri na mendaz ilusão | Teus olhos negros na escuridão | Fisgados por entre…
Vislumbro na evidência os teus olhos vazios pela infinitude ardente que carregam no silêncio. A beleza da tua máscara negra, os pés de teu eu de morada em meu ideal…
Amor… guardarás algo dos momentos? | Das tenras amarguras que criamos | Às loucas vãs mentiras que contamos | Meu rosto trará amenos fragmentos?…
A morada do austero pranto \ é o desaguar que recidivo | indaga-te pravo e ablativo: | “Vais desejá-la se a água-manto | cobri-la o rosto em pálida ternura?…
Poeta, Escritora e Sonurista, formada em Psicologia Fenomenológica-Existencial e autora dos livros “Sonetos Múrmuros” e “Sete Abismos”. Sahra Melihssa é a Anfitriã do projeto Castelo Drácula e sua literatura é intensa, obscura, sensual e lírica. De estilo clássico, vocábulo ornamental e lapidado, beleza literária lânguida e de essência núrida, a poeta dedica-se à escrita há mais de 20 anos. N’alcova de seu erotismo, explora o frenesi da dor e do prazer, do amor e da melancolia; envolvendo seus leitores em um imersivo, e por vezes sombrio, deleite. A sua arte é o seu pertencente recôndito e, nele, a autora se permite inebriar-se em sua própria, e única, literatura.
Jamais imaginei te carregar | Na forma e substância d’esta mágoa, | No peito que se assola por lembrar, | Rendido ao desalento e morto em frágua…