Cruel Delírio

Que ardor… Cri na mendaz ilusão
Teus olhos negros na escuridão
Fisgados por entre meus vitrais
Sutil luzido sob céus astrais
Enquanto o sopro frio em tua feição
Na aragem de aspectos brumais
Aluíra-me o infeliz coração.

Fui dentre os pinheiros te buscar
Nas sombras tua voz grave a chamar
Meus pés descalços, e eu tão marfim,
Que espinhos emergiram sob mim
Num negro roseiral de agoniar
Deixei um rastro em sangue carmesim
Horrores vis verti em lacrimar.

Que pouco a pouco a morte fatal
Viera à minha solidão cabal
Caíra ao meu ruir, ó, tão silenciado
Que fim; que epílogo consumado!
Roguei fraca por tu’alma abissal
Tal como fiz à tua cova, amado…
Tal como fiz no rito à catedral.

Senti tua presença eterna em tez
Fitei o envolto turvo em frigidez
Havia da noite a treva somente.

Tal como tu eras, intransigente,
Ela urgia muda, um mal imanente
Eu sob seu manto em languidez.

N’aurora, pois, voltei à lucidez
Tu foste a ilusão, ó, tristemente,
E eu só queria amar-te a última vez.

Sahra Melihssa

Poeta, Escritora e Sonurista, formada em Psicologia Fenomenológica-Existencial e autora dos livros “Sonetos Múrmuros” e “Sete Abismos”. Sahra Melihssa é a Anfitriã do projeto Castelo Drácula e sua literatura é intensa, obscura, sensual e lírica. De estilo clássico, vocábulo ornamental e lapidado, beleza literária lânguida e de essência núrida, a poeta dedica-se à escrita há mais de 20 anos. N’alcova de seu erotismo, explora o frenesi da dor e do prazer, do amor e da melancolia; envolvendo seus leitores em um imersivo, e por vezes sombrio, deleite. A sua arte é o seu pertencente recôndito e, nele, a autora se permite inebriar-se em sua própria, e única, literatura.

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