Limbo
Circunda-me gris noite, estou tão só…
Por vezes dói, minh’alma s’esvazia
E lembro hei de tornar-me reles pó
Da vida cuja bruma é primazia…
Pergunto-me se Deus… ou se o demônio…
Indago-me no afogo d’este mar
De pranto sorumbático e adônio…
Em salmos esta lira há de adentrar?
A voz d’onipotente nunca ouvi…
Dos seus rivais, decerto, muito menos!
Que doce fleuma mórbida — eu cri…
E crendo vi nobreza em tal veneno
Dos tantos em imagem-semelhança…
Um mundo tão cruel… desesperança…
Ausento-me em mim… limbo tão pleno…
Estive no esplendor d’este lugar | N’algures dos meus sonhos mais serenos | Dormi nos girassóis, ouvi cantar | Os pássaros nas nuvens, contra o vento…
Pungentes os mundanos são à seda | Das pétalas do ser, que quebradiço, | Eu sou por ver-me sempre na vereda | D’um mundo belicoso e tão mortiço…
Que fosses ente e crer-te eu sempre iria | No alvor rogar-te em puro amor vestal | Que fosses a Verdade, eu saberia…
Poeta, Escritora e Sonurista, formada em Psicologia Fenomenológica-Existencial e autora dos livros “Sonetos Múrmuros” e “Sete Abismos”. Sahra Melihssa é a Anfitriã do projeto Castelo Drácula e sua literatura é intensa, obscura, sensual e lírica. De estilo clássico, vocábulo ornamental e lapidado, beleza literária lânguida e de essência núrida, a poeta dedica-se à escrita há mais de 20 anos. N’alcova de seu erotismo, explora o frenesi da dor e do prazer, do amor e da melancolia; envolvendo seus leitores em um imersivo, e por vezes sombrio, deleite. A sua arte é o seu pertencente recôndito e, nele, a autora se permite inebriar-se em sua própria, e única, literatura.
Escrevo. Bem além do que ressinto | Ou sinto ou do que vejo. Muito mais. | Escrevo por questão da alma, do instinto, | Do sonho mais que as sombras factuais!