A Bruxa e o Cadáver
Bruxa
— Levanta-te morbígero cadáver!
Teus olhos vítreos pálidos reluzem!
Odor de morte antiga que paláver
Sem verbo zumbi horrores que conduzem;
— Caminhe n’esta terra aromantada
De lágrimas e sangue, a flor do mal
Que brota putrefata e delicada
Disposta a todo crime mais brutal!
Cadáver
— Devolva-me à morte, bruxa amarga!
Que vida humana alguma me apetece!
Jurei beijar meus vermes, cá me larga!
— Devoto sou ao crânio, pela prece,
E à úmida madeira do caixão
E à paz d’este meu hirto coração…
A vida imunda, sei, não me merece.
Nas grotas d’uma lôbrega passagem, | A balça gris e sôfrega, que à vista, | Ornava em medo fúnebre a viagem | Aos versos d’um plangente sonurista;…
Memórias d’estas mil alcovas lôbregas, | Perlustro os epitáfios, os semblantes, | Há brandos anjos, murchas rosas sôfregas, | À morte: Os meus silêncios lacrimantes…
Morrer é o que nos caracteriza e a morte é significativa para todas as instâncias da vida…
Noturno — o silêncio — em sinfonia, | Às notas vagarosas como rios, | Escuto adormecida — a astenia | Do corpo embriagado em mil vazios; | O pêndulo — as horas — sem sentido...
Poeta, Escritora e Sonurista, formada em Psicologia Fenomenológica-Existencial e autora dos livros “Sonetos Múrmuros” e “Sete Abismos”. Sahra Melihssa é a Anfitriã do projeto Castelo Drácula e sua literatura é intensa, obscura, sensual e lírica. De estilo clássico, vocábulo ornamental e lapidado, beleza literária lânguida e de essência núrida, a poeta dedica-se à escrita há mais de 20 anos. N’alcova de seu erotismo, explora o frenesi da dor e do prazer, do amor e da melancolia; envolvendo seus leitores em um imersivo, e por vezes sombrio, deleite. A sua arte é o seu pertencente recôndito e, nele, a autora se permite inebriar-se em sua própria, e única, literatura.
— Levanta-te morbígero cadáver! | Teus olhos vítreos pálidos reluzem! | Odor de morte antiga que paláver | Sem verbo zumbi horrores que conduzem;…