Fascina-me imaginar os teus olhos percorrendo estas letras que redijo carinhosamente; ou, talvez, as tuas mãos tocando-as e/ou teus ouvidos escutando-as. Interessa-te saber um pouco mais sobre quem sou, por isso tu estás aqui, certo? Ou talvez já me conheças e estejas n'este recôndito por outra razão. Importa somente que saibas ou relembres: A minha escrita guarda minha essência em suas entrelinhas mais profundas, portanto, tu poderás apreciar cada poética manifestação do meu ser sempre que se permitir deleitar-se com a minha Literatura. 

Imerja-se em minha escuridão; revele, gradativamente, a minha pele. 

A Pele e a Escuridão definem muito do que sou, por isso as mencionei. Sobre a pele estão as sensações, a sensualidade, as percepções do mundo, a melancolia, o prazer, a sensibilidade; e sobre o breu residem os segredos da alma, do abismo, os medos, as dores e a soturnidade. Essa é minha Literatura, é a Pele e a Escuridão. Gosto das palavras que um amável amigo deixara para mim em uma fotografia que publiquei em minha rede social: “Pele cor de livro, páginas e páginas clamando por tinta, soturna e sanguínea, salaz e lúgubre” — isso define, com perfeição, o meu universo.

Escrevo-te no mês de agosto; dia oito de 2024. Em vinte dias farei trinta invernos vividos e agrada-me compartilhar com o mundo aquilo que faz parte de meus modos-de-ser. Minha visão peculiar da existência e a manifestação mais pulcra do meu âmago são verdades que significam muito mais quando redigidas, pois, são eternizadas, quebrando o aspecto efêmero da vida. Quero dizer, escrevo para ser eterna e escrevo porque, só assim, existo; a maneira como sou vinculada às palavras conduz minha natureza — eu respiro letras e as sorvo com lentidão venérea, alimento meu espírito com elas, e minha carne.

Há letras em meu plasma, nas hemácias, nos leucócitos e nas plaquetas; há versos inteiros nas artérias, nos órgãos e neurônios; escrevo de olhos fechados, adormecida ou acordada. Se há algo de valor a revelar-te, pois, é isto: sou a Escrita em si mesma, personificada humana. Só posso ser alcançada, portanto, aqui; com tua leitura atenta. E se busco a eternidade nesta vida, mesmo sendo a Escrita e, portanto, sendo um marco histórico da humanidade, é porque ainda falta muito para que todos aprendam o verdadeiro valor das palavras.Verba volant, scripta manent— um fato olvidado.

Essa revelação… ela me imerge em sensações intensas, pareço ser tomada por algo além de mim e, então, me emociono. Tu que estás aqui, podes sentir? A Escrita conduzindo-nos em silêncio… minhas palavras nascendo em tua mente, percorrendo cada espaço de teu ser, exalando dos poros de tua pele... Aqui, na leitura e na escrita, reside a mais genuína Sahra Melihssa. Letras, páginas, palavras inteiras. Somente aqui um límpido vínculo pode nascer, pois a vida mundana não comporta a perfeição magistral do que se desvela na Escrita.

Confundo-me, por vezes, e falo como sendo eu mesma a Escrita e, noutras vezes, como sendo “ela, a Escrita”. Eu não sei onde começo, não sei onde ela termina — simbiose, é isso. E... hum... questiono-me o que tu queres, de fato, descobrir nos arcanos deste lugar — se toda a mundanidade é irrelevante, o que resta? Resta a pele, na volúpia; resta a escuridão, no terror; resta a Escrita, eu mesma, em longas construções frasais; resta o essencial: a Literatura. Mas, tu queres a profundez das letras? Se sim, então venha.

Venha... dê à imaginação essa metamorfose — a Escrita é tudo o que quer ser, e assim eu também o sou; ela se exterioriza multiforme e, a cada leitura, ela se metamorfoseia outra vez, e assim eu também o sou. Se te apeteces conhecer-me, só há um caminho: ler-me. Não há um atalho. E se almejas alcançar realidades onde raros seres estiveram, sentimentos que raros seres experimentaram... se desejas uma imersão em lirismo sublime, instigando todos os seus sentidos... se anelas por uma experiência de leitura, que convida tua mente à expansão das ideias, teu corpo à luxúria significativa, tu'alma à profundidade da existência... então, no seio de minhas palavras tu deves repousar a tua cabeça. Apenas leia, e eu te conduzirei para o mais profundo.