Hermético Bioma

John William Waterhouse
Raríssimos cristais d’olhos chorosos
Regaram-me o jardim do peito e a dor
Nascera envolta n’água, pois ditosos
Langores deram vida à ave Candor*
Que ninho tenro e lírico fizera
N’este âmago dorido, e o coração
Pulsar em canto lôbrego viera
P’ra dar sentido à minha solidão;
D’orvalho lacrimal à cachoeira:
Valências p’r’os mais raros desalentos,
Memórias de amargura n’algibeira
Que é feita de minh'alma a barlavento
Propensa à quedabismo* por fortuna
Do sopro contumaz de tece-dunas,
Qu’estranha fauna e flora... e que tormento!
Hermético Bioma, por Sara Melissa de Azevedo (Poesia Lírica; Sonura) - 18 de outubro de 2024
*Candor é um pássaro negro que reside em meus sonhos, de pequeno porte, longa crista; canto melancólico, longas penas negras com curvas ornamentais nas pontas. Seu nome é em razão de seus olhos profundamente brancos.
*Quedabismo (substantivo feminino poético): Junção de queda+abismo; representa a queda de forma poética, indicando a sua profundidade e, consequentemente, a dor que ela causa. Essa queda é simbólica, geralmente atrelada às agruras e ou ardores da complexidade humana.

Querida Lilaen, o mundo silente convida-me ao infinito dos teus olhos. Embora eu não possa ouvir tua voz, sei que ela é doce como mel…
À noite, tilintam... | Entre a breve garoa; | E os brilhos longínquos, | Iguais se tilintam... | No firmamento sereno. | Tradições e esperanças: | Tesouros de vida,…
Silencie seus pensamentos por um instante e, então, ouça o canto do sereno vazio. Talvez eu sinta — na imensidão do único universo que me pertence…
N'alcova em solinura eu m'afligia, | Terror de pesadelos: abundante! | Nesta umbra-consciência algo plangia | Em mórbido sonar arrepiante...
As dores que te orgulhas por deixares | Raíz, à terra úmida, criaram; | Nasceram rosas negras que, se amares, | Irão murchar fugazes tal brotaram;...
Amado, esta invernia quando vem, | Na tua serenidade apaziguante, | Almejo o aconchego que nos tem | Somente em nosso leito lacrimante;…
Orquídeas negras tecem a ninguém, | Silêncio aveludado no jardim, | Apresso-me temendo vir alguém | Desperto pelo…
Cinéreas nuvens, frio — e a quietude, | A fina chuva, o aroma: há sopa quente | Nos prédios, casas, lares: placitude; | Debaixo, em cobertores — quiescente;
Ouvia o sussurrante estridor do rígido inverno e o pálido horizonte nevoado assustava-me em sua imensidão anilada…
Esse texto é para maiores de dezoito anos. Contém linguagem sexual explícita e pode conter ilustrações…
Embevecida pelo silêncio dos sonhos mais profundos, tudo se externava em suavinura. Andejei sob infinda serenidade por dentre um substancial jardim de raras…
Disparada seguiu pelos claustros do castelo Vonssihren, embora mantivesse sua elegância; a aragem era doce e tenra, beijando seu rosto com a serenidade de um…
Por vezes em meus sonhos turbulentos | Sentires do passado me retornam, | São como frágeis sombras, tenros ventos | Que espargem às paisagens que me ornam;…
Em algum espectro temporal da poesia em toda a sua existência, houvera uma poética habitante…
Aflige-me o existir se o outono é febre... | Somente em frigidez eu me apaziguo. | Na toca sou as Cinzas de uma lebre | No tórrido caixão de um lar-jaziguo;…
Você sabia que existe uma subcultura com uma estética misteriosa e clássica cujo principal foco…
Tens a beleza d’esta chuva | Trazes frescor e bom abrigo | De vida, flora, verde-uva, | Tens uno amor para comigo;…
Nas minhas vis oníricas vivências, Estive em profundezas obscuras, Foi dentre o arvoredo de imanências, Que vi medrar assombros e loucuras, […]
Um flúmen carmesim cruzava o níveo balcedo e, deste liquor consistente, eu me inebriava, sorvendo sem temores, e imergindo-me nua em seu sereno caudal cujo…
Eu estive em um labirinto liminar. Compreendo, por experiência própria, as suas obscuras entranhas…

Poeta, Escritora e Sonurista, formada em Psicologia Fenomenológica-Existencial e autora dos livros “Sonetos Múrmuros” e “Sete Abismos”. Sahra Melihssa é a Anfitriã do projeto Castelo Drácula e sua literatura é intensa, obscura, sensual e lírica. De estilo clássico, vocábulo ornamental e lapidado, beleza literária lânguida e de essência núrida, a poeta dedica-se à escrita há mais de 20 anos. N’alcova de seu erotismo, explora o frenesi da dor e do prazer, do amor e da melancolia; envolvendo seus leitores em um imersivo, e por vezes sombrio, deleite. A sua arte é o seu pertencente recôndito e, nele, a autora se permite inebriar-se em sua própria, e única, literatura.
Olhos de pútrida esperança; entre o frígido derredor, onde as mãos do insondável inverno conduzem a pequenez de seres irrisórios..