Hermético Bioma

 

John William Waterhouse

 

Raríssimos cristais d’olhos chorosos 
Regaram-me o jardim do peito e a dor 
Nascera envolta n’água, pois ditosos 
Langores deram vida à ave Candor* 

Que ninho tenro e lírico fizera 
N’este âmago dorido, e o coração 
Pulsar em canto lôbrego viera 
P’ra dar sentido à minha solidão; 

D’orvalho lacrimal à cachoeira: 
Valências p’r’os mais raros desalentos, 
Memórias de amargura n’algibeira 

Que é feita de minh'alma a barlavento 
Propensa à quedabismo* por fortuna 
Do sopro contumaz de tece-dunas, 
Qu’estranha fauna e flora... e que tormento! 

Hermético Bioma, por Sara Melissa de Azevedo (Poesia Lírica; Sonura) - 18 de outubro de 2024 

*Candor é um pássaro negro que reside em meus sonhos, de pequeno porte, longa crista; canto melancólico, longas penas negras com curvas ornamentais nas pontas. Seu nome é em razão de seus olhos profundamente brancos. 

*Quedabismo (substantivo feminino poético): Junção de queda+abismo; representa a queda de forma poética, indicando a sua profundidade e, consequentemente, a dor que ela causa. Essa queda é simbólica, geralmente atrelada às agruras e ou ardores da complexidade humana. 

 
 
Sahra Melihssa

Escritora Melancólica, Poeta Obscura, Sonurista Lírica e Psicóloga Existencial. Anfitriã do Castelo Drácula. Saiba Mais

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