Hermético Bioma

 

John William Waterhouse

 

Raríssimos cristais d’olhos chorosos 
Regaram-me o jardim do peito e a dor 
Nascera envolta n’água, pois ditosos 
Langores deram vida à ave Candor* 

Que ninho tenro e lírico fizera 
N’este âmago dorido, e o coração 
Pulsar em canto lôbrego viera 
P’ra dar sentido à minha solidão; 

D’orvalho lacrimal à cachoeira: 
Valências p’r’os mais raros desalentos, 
Memórias de amargura n’algibeira 

Que é feita de minh'alma a barlavento 
Propensa à quedabismo* por fortuna 
Do sopro contumaz de tece-dunas, 
Qu’estranha fauna e flora... e que tormento! 

Hermético Bioma, por Sara Melissa de Azevedo (Poesia Lírica; Sonura) - 18 de outubro de 2024 

*Candor é um pássaro negro que reside em meus sonhos, de pequeno porte, longa crista; canto melancólico, longas penas negras com curvas ornamentais nas pontas. Seu nome é em razão de seus olhos profundamente brancos. 

*Quedabismo (substantivo feminino poético): Junção de queda+abismo; representa a queda de forma poética, indicando a sua profundidade e, consequentemente, a dor que ela causa. Essa queda é simbólica, geralmente atrelada às agruras e ou ardores da complexidade humana. 

 
 
Sahra Melihssa

Poeta, Escritora e Sonurista, formada em Psicologia Fenomenológica-Existencial e autora dos livros “Sonetos Múrmuros” e “Sete Abismos”. Sahra Melihssa é a Anfitriã do projeto Castelo Drácula e sua literatura é intensa, obscura, sensual e lírica. De estilo clássico, vocábulo ornamental e lapidado, beleza literária lânguida e de essência núrida, a poeta dedica-se à escrita há mais de 20 anos. N’alcova de seu erotismo, explora o frenesi da dor e do prazer, do amor e da melancolia; envolvendo seus leitores em um imersivo, e por vezes sombrio, deleite. A sua arte é o seu pertencente recôndito e, nele, a autora se permite inebriar-se em sua própria, e única, literatura.

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