Sozinho

Edgar Allan Poe

Eu não fui, desde a tenra e pura infância
Tal como eram todos — nem ganância
Tive símil — sequer vi como viam —
E as paixões que estimei não podiam
Vir da mesma primavera de lei;
Meu peito em só pranto — nem despertei
Regozijos sob tom andorinho —
E tudo que amei — tanto amei — sozinho;
Foi na aurora infante a fundação
Da mais tempestuosa vida — então
Viera todo algar do bem e mal
Ao mistério que me cinge abissal —
Da torrente ou da remansa nascente —
Da rubra falésia do monte sedente —
Do sol abrasador que me circunda
Em matiz outonal de áurea profunda —
Do luzir pujante no firmamento
Que passa por mim como agouro vento —
Dos trovões que a intempérie exprimiu —
E a nuvem que em tal forma se assumiu
(Quando anil era todo o céu restante)
De um vil demônio vindo ao meu semblante.

 
 
Sahra Melihssa

Poeta, Escritora e Sonurista, formada em Psicologia Fenomenológica-Existencial e autora dos livros “Sonetos Múrmuros” e “Sete Abismos”. Sahra Melihssa é a Anfitriã do projeto Castelo Drácula e sua literatura é intensa, obscura, sensual e lírica. De estilo clássico, vocábulo ornamental e lapidado, beleza literária lânguida e de essência núrida, a poeta dedica-se à escrita há mais de 20 anos. N’alcova de seu erotismo, explora o frenesi da dor e do prazer, do amor e da melancolia; envolvendo seus leitores em um imersivo, e por vezes sombrio, deleite. A sua arte é o seu pertencente recôndito e, nele, a autora se permite inebriar-se em sua própria, e única, literatura.

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