Memórias da primeira grande guerra

 

Zdzisław Beksiński

 

Ao leito que me tem há tantos anos
conto as áridas noites do passado,
jamais trarão sereno sonho alado
meus ares tão perdidos, levianos;

Ao berço que me teve n'outras eras
de infantis fantasias inocentes,
rogo tenhas piedade destas meras
loucuras de velhices decadentes;

Meu rosto enrugado de horrores
por lembranças do sangue denso e rubro…
O soturno temor  — turvos calores —
rasgando-me por dentro no delubro;

Escondido e afetado eu vislumbrei,
pelo culto de face inominável,
entidades erguerem-se, bem sei,
silentes em poder inigualável;

Semblantes símeis aos sujos abutres
e de corpo com vísceras à vista,
seus eflúvios carníferos, agrores!
Piores que o pavor novecentista;

Respingos de salino ardor sem dós,
tantas almas no antro sanguinário!
Eu queria não ter visto este cenário
que as bestas eram como somos nós!

Sahra Melihssa

Escritora Melancólica, Poeta Obscura, Sonurista Lírica e Psicóloga Existencial. Anfitriã do Castelo Drácula. Saiba Mais

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