Impressões sobre Carmilla

Carmilla tem uma narrativa simples e célere, embora profundamente imersiva. É um clássico da temática vampiresca e sua ambientação atemporal leva o leitor a uma época em que tudo era um mistério — mistério este que, diante dos meus olhos, nas minhas leituras noturnas, me imerge em uma inenarrável saudade de épocas quais nunca vivi. Há uma aura nos tempos oitocentistas, algo que os autores góticos carregavam em suas escritas, ainda que elas fossem, entre si, tão díspares. Esta aura é ardente em fascínio e deleite, ao menos para mim. Ela me guia em meus escritos sempre que me sento frente à escrivaninha; é uma musa perpétua, por mais que os tempos tenham mudado tanto. O vínculo dos outroras imemoriais com o meu espírito, beira a loucura do anjo do bizarro¹.

Páginas-portais evidenciam o vampiro de Carmilla, cujas características são inesquecíveis, não apenas a beleza, mas a intensidade de suas emoções e a forma como lentamente se envolve às suas vítimas por meio do toque e dos sonhos. É uma criatura detalhada em força e manipulação, vívido em encanto tão visceral quanto obsessivo; tem coração impiedoso e, se ameaçado, mostrará suas expressões mais dantescas e desaparecerá em segundos. Sou apaixonada pelos vampiros mais clássicos, então eu me deliciei com a história de Carmilla, ainda que eu prefira leituras que se demorem mais em cada parágrafo e que sejam um poço obscuro de detalhes fascinantes — Joseph Sheridan Le Fanu surpreende com sua capacidade narrativa e cativa, inexplicavelmente; quiçá por certo dom vampiresco?

Meus instantes preferidos estão descritos nos momentos em que Carmilla manifesta a sua mórbida paixão, levando Laura a uma abismal angústia e um indescritível fascínio — sentimentos destoantes que se completam e permanecem enraizados mesmo após o fim do último capítulo. Devo dizer que conclui a leitura com vontade de relê-la, pois sua eternidade fez bastante sentido em minha mente; eu pude ver com clareza cada cena e, mais, pude estar lá, senti-me como se eu fosse Laura e, às vezes, Carmilla, justamente pela arte da escrita de Le Fanu, fluída e apaixonante. Aos leitores ávidos, deixem-me morrer em cada página abrasadora de Carmilla.

Sara Melissa de Azevedo - Impressões sobre Carmilla (2022, outubro 27)