Entrevista para o Epílogo Criativo

Epílogo Criativo / Bianca Dlamares: Olá, queria lhe dizer que terminei seu livro, te confesso que alguns momentos tive que voltar e tentar entender o que estava rolando e mesmo assim eu acho que, a conclusão que eu teria, outra pessoa imaginaria uma proposta completamente diferente. Mas eu queria te fazer umas perguntas se, claro, você quiser responder. Foi uma experiência super diferente ter lido sua obra com a Palavra e Verso! Vamos lá, por que você escreveu o livro e por que uma proposta tão diferente?

Sara Melissa de Azevedo: Fico feliz em saber que você terminou de ler Sete Abismos. Principalmente por saber que a leitura foi imersiva, embora difícil e até mesmo inconclusa. Ao escrever Sete Abismos, eu tinha em mente um terror profundo e, portanto, de difícil conclusão, pois que, pensando na realidade, coisas do tipo não seriam facilmente explicadas. Saber que os leitores teriam compreensões diferentes também me parecia interessante, afinal são fenômenos subjetivos e a subjetividade tem essa variável.

Eu escrevi Sete Abismos porque eu queria participar de uma seletiva de livros de terror de uma editora famosa do mercado. Foi isso que me impulsionou à princípio. Afinal, era uma boa oportunidade para conseguir ser reconhecida em minha arte. Então no começo era por causa da seletiva, depois era tão somente porque eu amo escrever e a temática sempre me foi inspiradora.

Meu estilo de escrita é complexo, pois tenho uma educação acadêmica voltada para a filosofia. Considero a Escrita e a Filosofia, portanto, caminhos únicos para o autoconhecimento e a felicidade; deste modo, minhas histórias sempre trazem à tona reflexões profundas sobre a psicologia humana e sempre são narrativas recheadas de frases difíceis e palavras não usuais. Por amar tanto as palavras, acho um desperdício não as usar. Sinto que há muito preconceito, principalmente hoje em dia, com a leitura difícil. Eu quero quebrar esse preconceito, esse medo que as pessoas sentem das palavras.

Além disso, sempre quis escrever uma obra em homenagem aos clássicos da literatura de terror, em especial Edgar Allan Poe; é por isso, também, que a narrativa de Sete Abismos é da forma que ela é.

Epílogo Criativo / Bianca Dlamares: Você acha que o geração de hoje — que funciona no imediatismo por já estar viciada nesse tipo de comunicação — logo é um obstáculo para ler leituras mais profundas como sua obra?

Sara Melissa de Azevedo: Sim. A humanidade hoje está com grande dificuldade de concentração, as pessoas não conseguem se aprofundar em coisas que são muito difíceis, desde leituras como Sete Abismos, até mesmo trabalhos mais elaborados ou, ainda, relacionamentos mais complexos. Isso acontece porque o autoconhecimento está sendo soterrado pelos altos níveis de estímulos que nosso corpo recebe graças à tecnologia. Por nos expormos tanto às redes, somos alvos do estresse, da ansiedade, da disforia, porque nossa mente quer cada vez mais estímulos rápidos e excitantes que não exigem esforço algum. Estou escrevendo sobre isso em meu site, são artigos que falam sobre a temática, o primeiro deles se chama “Não estamos prontos para a tecnologia”. É por isso que também faço questão de não facilitar a leitura de meus livros só para que sejam mais fáceis de vender e entender, um livro é escrito como deve ser, vai de acordo com a essência do livro, é como qualquer outra arte, tem personalidade e deve transmitir essa personalidade. Deixo claro que não há problema algum com leituras fáceis, o erro está em temer leituras difíceis ou querer que elas deixem de existir.

Epílogo Criativo / Bianca Dlamares: Como foi a concepção do meu conto favorito “A Carta de Íris Cohen”. Me fala mais sobre esse!

Sara Melissa de Azevedo: Que legal saber que você amou este conto, é um dos meus preferidos. A Carta de Íris Cohen era, à princípio, um conto de terror erótico; foi escrito por mim em meados de 2014-2015. No entanto eu não consegui finalizá-lo, eu não sabia como continuar a narrativa de forma cativante. Quando iniciei a escrita de Sete Abismos, resolvi retomá-lo, pois sempre amei demais a história, a narrativa, a questão atemporal em que ela se manifesta. Decidi, então, retirar as partes eróticas e focar no terror para que pudesse adicionar ao livro. Era exatamente o que eu precisava fazer. A história fluiu bem mais assim, ela foi mesmo feita para estar em Sete Abismos. Foi incrível escrevê-la e reescrevê-la, lembro de perder o fôlego muitas vezes, principalmente quando as frases em linguagem desconhecida se desvelavam, ou quando a mórbida obsessão de Edgard Vanesthron ficava evidente; e mais ainda quando a angústia tão verdadeira de Íris se expunha por longos parágrafos...Eu escolhi cuidadosamente quais palavras eu iria usar para descrever certos momentos, foi uma experiência inenarrável. Há muito para se desvendar nessa história, está aí uma que merece um livro só para ela com mais detalhes para mais imersão.

Epílogo Criativo / Bianca Dlamares: Você tem intenção de criar outro livro ? Qual tema seria o escolhido dessa vez?

Sara Melissa de Azevedo: Eu tenho muitas intenções. Minha mente sempre ferve de ideias para novos livros desde que eu era bem jovem. Mas atualmente não estou me dedicando a nenhum em específico, estou sondando algumas possibilidades, relembrando meus antigos arquivos. Uma coisa que sinto é que eu gostaria de explorar o lado romântico no meu próximo livro, talvez algo mais fantástico com vampiros, anjos e demônios ou apenas o puro e clichê romance de época.

Sahra Melihssa

Escritora Melancólica, Poeta Obscura, Sonurista Lírica e Psicóloga Existencial. Anfitriã do Castelo Drácula. Saiba Mais