Sonhos
Moroso e calmo como a noite e o silêncio. Vem, toca-me com seus dedos tenros, esqueça o que nos ascende à dor da alma, mate a solidão com a lembrança do meu desejo. Veja que tenho sonhado, diz se você também sonha comigo... Nas visões oníricas te senti penetrar-me na noite passada e hoje apenas finjo que somos esses dois conhecidos. Você sabe pouco desta que busca seus olhos com frequência, decerto porque fora da sua mira e às vistas do mundo onde nunca nos encontramos, eu sou uma mulher sensível que quer tanto o prazer quanto as dores que somente mãos viris proporcionam.
Percebe? Ficamos no abismo de nós quando você não me toca... não queira vestir máscaras comigo, se você não vem próximo, não dá carinho, demonstrando tênue vínculo, pode fácil esvair-se como reminiscência... E eu não quero isso. Raros são os que admiro, raros os que me fascinam — leva um tempo e eles desaparecem como névoa pálida e frígida. Não suma deste ideal, deixa seu corpo dizer a verdade, ainda que seja apenas no segredo de uma realidade alternativa, como a que sonho quando durmo e a que me inquieta quando acordo.
Feita desta fantasia, mesmo sozinha, é impossível não me enganar nessas dunas de inocente vontade. Como reconheço as profundezas dessa tensão? O erotismo tem mesmo as suas faces, posso sentir pulsar longínquo. Guarde agora o seu ego, se possível, minha vontade etérea e tão pura não é esperança, tampouco mundana, é como o primeiro amor de uma criança que, às vezes, se trata apenas de sua pelúcia favorita. Veja que divago, se o faço é porque te quero, mesmo assim como um momento que pode facilmente acabar. Não tem problema.... Começos me assuntam mais do que os fins, pois, em suma, só os inícios são incontroláveis e imprevisíveis. Preparo-me para o nosso fim desde antes de nosso começo, em vista da sua personalidade e da minha. Não nos conhecemos. Deixemos ao sonho o que nunca será real.
Assim, então, penetra-me outra vez, é apenas um sonho, beija-me ao som da chuva que é intensa, úmida como eu. Sinta meu hálito de frescor primaveril e não perca o ritmo do nosso prazer; há um violino distante que toca no momento do meu gozo, eu te abraço porque você está tenso. Você nunca se despede direito. Você nunca me responde direito. E eu sei que, como a chuva, preciso apaziguar; sugo teu sexo pela última vez, no fundo da minha garganta; encontro meus olhos lacrimejando e vejo seu rosto distorcido. Somos o que somos, mentiras desveladas em fragmentos; nunca compartilharemos a verdade de nós e eu que sou frágil, entendo. Você toca minha perna e some como o vento. Um pesadelo que sempre vem pelo vazio que mora no meu peito.a-me em segredo sobre suas sensações ao ler-me.