Irreal
Não sei teu nome, mas tu estiveras em meus sonhos esta noite. A escuridão beijava todo o meu quarto e o fervor lânguido incitava minhas lamúrias. Porventura eu estivesse fragilizada, no entanto, eu bem sei como foi aquilo tudo... tão lúcido. Teu olhar vívido observava-me lascivo, tu estavas do outro lado da rua e, como era um sonho — quão doloroso dizer isso — tudo, com exceção de nós dois, era estranho e vago. Então, caminhei; naquela travessia lenta e silente. Guiada pelos teus olhos como se eu pertencesse às tuas mãos.
Encontramo-nos, frente a frente, e senti o seu toque em minha nuca, conduzindo todas as minhas sensações mais febris. Logo depois, na cintura, puxaste-me contra ti que, rígido, ansiava por mais intimidade. Guiaste-me para o beijo tórrido e úmido, e todo o teu plenitúrgido desejo me estimulava. “Mais...” — eu gemia. Já não estávamos mais ali, de súbito era apenas uma cama, e teu corpo me prensava contra o colchão. Eu implorava... e vi, com a perfeição de uma estátua de marfim, tua penetração profunda e firme, contínua e extasiante. Tu conduzias, com a tua fúria viril, cada vez mais forte. E juro que ouvi o teu gemer, grave em meu ouvido, e despertei quando o prazer já não suportava permanecer no mundo onírico. Acordei trêmula, com o corpo em ápice de luxúria, um orgasmo arrebatador e um desnortear que fez com que eu demorasse alguns minutos para entender o que ocorrera.
Eu desejei que fosse real. No entanto, a solidão sorria para minha alma ofegante. Então decidi escrever-te, mesmo que eu saiba que tua existência é imaterial. Ainda assim, o que senti foi mais do que tangível e se de fato nunca mais o encontrarei vagando pelos meus mais lúcidos sonhos, que assim seja. A eternidade daquele momento nosso já me bastou. Confesso, no entanto, que buscarei teu semblante em todos os rostos que cruzarem meu caminho de agora em diante.