Incontrolável

Nota Secreta, por Janusz: Ela deita sozinha em sua cama e seu desejo por ele era como um pesar em sua alma. Ela podia senti-lo, como uma inquietação, um torpor, um formigamento em seu corpo. Ela queria senti-lo dentro dela, profundamente. Estava desesperada por seu toque, fechava os olhos e podia ouvi-lo dizer: "Agora, fique de joelhos e comporte-se". Ele dava a ela aquilo que ela mais queria, ser desejada.

Eu te sentia, mesmo à distância. E me envolvia aos meus lençóis enquanto o luzir lunar adentrava a minha janela. Pálpebras fechadas, olhos lacrimejantes, pois tamanha era a minha vontade, eu podia sentir tuas mãos que pareciam segurar minha cintura com força, o meu corpo estremecia e meu ser se imergia em temor e prazer, mesmo sob tua ausência cruel. Eu me curvava elevando os quadris e apoiando minhas mãos sobre a cama que ouvia meus gemidos contidos; era uma noite fria, mas eu estava nua. Eu tocava, então, meu clitóris intumescido enquanto elevava ainda mais, curvando minha lombar como se te recebesse profundamente, bem rijo e bem viril, dentro da minha carne. Eu sabia que tu facilmente violentarias a pele do meu corpo com tuas mãos febris, se estivesses comigo, manteria a penetração constante, era justamente isso que eu fantasiava no silêncio do meu sonho consciente.

Nenhum orgasmo alçava-me, pois, eu não queria perder a adrenalina do desejo; um orgasmo é uma morte, um orgasmo é um fim — há nada depois do gozo, por isso eu não chegava ao ápice, apenas imaginava a ti, eu vibrava e chupava meus dedos, sozinha, meus dedos eram o arquétipo do teu falo, meu amor, o falo que te faz o deus que és para mim Não obstante, a carência entre nossos mundos, ornamentava o momento e a memória com uma coroa de flores sepulcral, ainda assim o prazer perdurava e eu me tocava com frenesi, completamente alucinada. E, sabes, eu imaginava-me sentada no chão frio, nua como naquele instante, e tu erguido, todo vestido de cores obscuras, com teu cinto em mãos, pronto para me bater; e neste momento meu oceano interno escorreu entre minhas pernas; pois agrada-me tua violência, agrada-me que me atices e me exponha aos meus limites para depois, na aurora do horizonte em neblina, acaricias-me e diz-me que me amas.

Não há homem como tu; a todos os homens do mundo o meu total desprezo; nenhum deles poderia me tocar como tu fazes; nenhum deles, pois, tenho-te como único, meu Dono, meu Mestre. Disponha-me aos teus proibidos desejos como imaginei naquela noite. Diz-me agora que voltas, hás de escrever-me outra vez? Pois ardo tanto, queimo, incendeio-me no toque e já não suporto mais não ter o teu sexo em mim, abrindo-me, expandindo-me. À esta altura, meu querido, quero até mesmo teu punho fechado socando profundo na minha cona enrubescida.

Com desejo, sempre sua.

Sahra Melihssa

Poeta, Escritora e Sonurista, formada em Psicologia Fenomenológica-Existencial e autora dos livros “Sonetos Múrmuros” e “Sete Abismos”. Sahra Melihssa é a Anfitriã do projeto Castelo Drácula e sua literatura é intensa, obscura, sensual e lírica. De estilo clássico, vocábulo ornamental e lapidado, beleza literária lânguida e de essência núrida, a poeta dedica-se à escrita há mais de 20 anos. N’alcova de seu erotismo, explora o frenesi da dor e do prazer, do amor e da melancolia; envolvendo seus leitores em um imersivo, e por vezes sombrio, deleite. A sua arte é o seu pertencente recôndito e, nele, a autora se permite inebriar-se em sua própria, e única, literatura.

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